Deixem-me que vos fale de um amigo. Um amigo que surgiu assim do nada. Quando eu menos esperava que aparecesse. A guest list daquela temporada - garanto! - já estava fechada. Eram quase quinhentos e não cabia nem mais um. Imaginem as carruagens da linha amarela, na estação de metro do campo grande, às 8h30 da manhã, quando já vêm lotadas do senhor roubado.
Os meus amigos estavam conservados que nem sardinha em lata.
Mas constou que era pessoa de valor e na penúltima carruagem, terceira porta a contar do fim, alguém empurrou uma velhinha contra um funcionário público e ele entrou. Já trazia o passe social, embora tudo tivesse feito para ocultar tal facto.
Numa bela manhã de Inverno, com uma alcatifa cinzenta em pano de fundo e dossiers azul deformado em estilo de decoração de boas-vindas - mais poeira, menos gel – chegou à sociedade.
“Mais um no gabinete? Onde? Debaixo da mesa? O que vale é que é magrinho! Vai caber e tudo...”
Lá se encaixou o “trinca-espinhas”. Entre o meu lugar e a janela. Bye bye Avenida da Liberdade.
Introduções à parte, o Piranha, como muitos lhe chamam, era bom tipo. Cabelo espetado e charme muito afinado – eu diria até refinado - foi conquistando colegas, administrativas e - não aviso cabeças - sócios sem dó nem piedade.
Inevitavelmente lhe atribuí o cognome “Lança Perfume”, resultado dos simpáticos e nada, nada, mesmo nada, bajuladores comentários com que nos brindava. Ora junto à impressora, ora nas incursões à copa para se abastecer de um yoplait natural aquando das insistidas dietas.
“A Anabela hoje tem um perfume novo ou é impressão minha?” ou “As riscas da tua camisa são aquilo a que se chama de azul-marinho, não é Madalena? É a cor da moda!” e ainda “Caras colegas de gabinete, não vos quero incomodar mas sabem que prezo muito a vossa opinião e bom gosto... gostam dos meus sapatos? Mas ficam-me bem, a sério?"
Assim começou uma bela amizade. Graxa, risota e, tantas vezes, um ombro - Labrador - amigo.
What else?
quinta-feira, 28 de maio de 2009
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