quinta-feira, 23 de junho de 2016

Mãozinhas low cost


Tive a minha primeira experiência low cost ao nível do tratamento capilar.
Surgiu um imprevisto e falhei a hora marcada no meu cabeleireiro habitual, tendo sido obrigada a recorrer a um desses salões onde não se aceita marcação e somos despachadas em tempo record, de cabelo lavado e arranjado.
Pensei: “vai tudo correr bem”. E, de facto, ao nível da aparência, correu. À saída, imagem irrepreensível. Oleosidade resolvida, como diz o Ronaldo, e cabeleira esticadinha.
O caminho até lá foi, no entanto, sinuoso. Desde logo, pelo aspecto do estabelecimento. Já tinha tido melhores dias, espera-se.
Ao entrar encontro a recepção vazia. Sou abordada de longe, por entre zumbidos de secadores, cataratas de água e conversa de café entre colegas.
Mandaram-me avançar para uma cuba, aqueles lavatórios onde a moleirinha vai a banhos. E aí tive direito a tudo. Dedos, molhados, dentro dos ouvidos (pode soar delicioso – gostos não de discutem – mas não me agradou de sobremaneira), champô até aos tímpanos e variações de temperatura que me fizeram acreditar estar a ser cobaia de um inovador exercício de estimulação do coro cabeludo através de choques térmicos.
Fui depois encaminhada para uma “ilha” com espelho, cadeira e apoio de pés. Mais uma vez, bar aberto. Altas temperaturas que desta vez simularam a sensação de perú de natal a entrar no forno.
Ainda houve o bónus de uma enérgica sapatada que lançou o meu telemóvel em queda livre, até escassos milímetros do chão, altura em que os meus rápidos reflexos o salvaram.
Tudo isto com banda sonora. Para quem quisesse e para quem não quisesse ouvir. Relatava-se o feriado do dia anterior. Segundo constava, a colega da ilha ao lado teve de trabalhar. O dia foi fraco e depois da jornada laboral, houve jantar num restaurante das imediações com o marido, a filha o piriquito e a afilhada. E também uma corrida frenética para apanhar o comboio.
Enquanto isto, poderosos e dolorosos sopros de ar a ferver - a temperaturas certamente proibidas por lei - entravam pelo meu cérebro dentro. Até que, finalmente, alguns minutos depois, tudo acabou.
Da tortura à saída foram cinco euros e cinquenta. Há quem pague mais para sofrer...

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