quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um limão, meio limão


Quando chove a bom chover, os Ingleses usam a expressão “está a chover cães e gatos”.
Por terras lusas, mais propriamente na zona do Castelo, já se pode recorrer à expressão - também bastante original - “está a chover limões” quando… efectivamente… chovem limões. Facto que sucedeu, pelo menos, uma vez. E eu sou testemunha. Não assisti à chuvada, ou melhor, à limonada, mas assisti às cítricas – e não pouco azedas - consequências.
Afinal o que sucedeu?
Caíram limões do céu. É verídico. Qual “Magnólia” de Paul Thomas Anderson.
Mas desenganem-se as mais gulosas porque de Tom Cruise não se viu rasto no centro histórico da capital…
Domingo à noite. Estava no meu quarto e preparava-me para dormir. Soltam-se palavrões - dos grossos! - do lado de fora da janela. Primeira interrogação: mas porque raio vem a malta d’Alfama à bica ao castelo?
Continuam as obscenidades mas eu sem curiosidade de maior que me movesse até à janela. Tocam à campainha. Aí sim, vou à janela. A dona e senhora do palavrão dirige-se a mim: “Tem alguma coisa a ver com aquele pátio?”
Eu, à cautela, respondi que não mas a Bocage renascida tinha alguma razão. O pátio, alegadamente o local do crime, era familiar.
Depois de uma breve descrição dos factos por parte da vítima, ligo imediatamente para a minha prima mais nova que, como é seu apanágio, tinha feito das suas.
Inquirida quanto ao sucedido disse-me ”Foram só aparas de limão. Íamos fazer um carioca e como não usámos todas as raspas, atirámo-las à rua”.
É incrível como na adolescência pensamos que enganamos qualquer um com a história mais esfarrapada...
Claro está que ela e o seu cúmplice – de cabelinho à pajem e expressão de menino exemplar - não me souberam explicar como é que meras tiras de limão se tinham transformado, durante o vôo picado do 1.º andar até à rua, em meio limão que por sua vez se esfarelou em sumo na escassa cabeleira da madame que ia a passar.
Moral da história: primas criativas e saídas da casca (de limão ou de outro fruto qualquer) todos temos, por isso, em zona de terraços e limoeiros, proteja-se!
Um capacete de engenheiro, um toque de equitação ou até uma toca de natação - daquelas com flores em relevo que as "séniores" usam na hidroginástica - são artigos que podemos encontrar facilmente lá em casa (esta frase lembra-me aquele programa de ciência para míudos) e que podem evitar um travo a amargo, em cabelos ao vento, numa noite de Verão.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Malta, é o número 6 do calendário!

Junho, mês do calor (nem que seja antigamente); dos manjericos (oh menino, não cheire senão murcha!); das sardinhas no papo seco (para mim era uma fêvera faxavor, que nunca atinei com as espinhas!); dos cantores da garagem da vizinha, e mais recentemente da camisa negra, nos palcos de Lisboa antiga (e o que é a bomba da Total desactivada, junto ao Campo das Cebolas, senão uma lembrança da velha Lisboa?); dos naturalmente barrigudos naturais da Mouraria, Castelo e Alfama, de pé descalço a dançar no alcatrão da vida; dos tunnings que largam as máquinas de velocidade pelas de feira popular do “agarra o peluche” estrategicamente colocadas entre a panela de óleo da fartura e a roullote em néon rosa dos churros recheados a molho verde varejeira.
Junho é o mês do solta a franga do churrasco e do “você é concorrente, você pode descer” na versão “você é português, você pode curtir!”
Eu cá adoro o Santo António e os grelhadores improvisados a partir de bidons de gasolina.
Orgulho-me genuinamente do espírito desenrasca do portuga. Do “esquece a miséria e sai pr’a rua”, do “posso não ter dentes mas tenho pernas p’ra dançar”, do montar o estaminé com as tábuas da obra em frente, fazer uma sangria, apregoar e vender.
Não sei se o povo é quem mais ordena, mas que é quem mais goza, lá isso é. O mês de Junho é a prova disso.
Não perco pitada desta lufada de ar poluído. Poluído das colunas no limite dos décibeis e da fumarada dos churrascos e sardinhadas. Fosse toda a poluição como esta.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Quem não gosta de perfume?

Deixem-me que vos fale de um amigo. Um amigo que surgiu assim do nada. Quando eu menos esperava que aparecesse. A guest list daquela temporada - garanto! - já estava fechada. Eram quase quinhentos e não cabia nem mais um. Imaginem as carruagens da linha amarela, na estação de metro do campo grande, às 8h30 da manhã, quando já vêm lotadas do senhor roubado.
Os meus amigos estavam conservados que nem sardinha em lata.
Mas constou que era pessoa de valor e na penúltima carruagem, terceira porta a contar do fim, alguém empurrou uma velhinha contra um funcionário público e ele entrou. Já trazia o passe social, embora tudo tivesse feito para ocultar tal facto.
Numa bela manhã de Inverno, com uma alcatifa cinzenta em pano de fundo e dossiers azul deformado em estilo de decoração de boas-vindas - mais poeira, menos gel – chegou à sociedade.
“Mais um no gabinete? Onde? Debaixo da mesa? O que vale é que é magrinho! Vai caber e tudo...”
Lá se encaixou o “trinca-espinhas”. Entre o meu lugar e a janela. Bye bye Avenida da Liberdade.
Introduções à parte, o Piranha, como muitos lhe chamam, era bom tipo. Cabelo espetado e charme muito afinado – eu diria até refinado - foi conquistando colegas, administrativas e - não aviso cabeças - sócios sem dó nem piedade.
Inevitavelmente lhe atribuí o cognome “Lança Perfume”, resultado dos simpáticos e nada, nada, mesmo nada, bajuladores comentários com que nos brindava. Ora junto à impressora, ora nas incursões à copa para se abastecer de um yoplait natural aquando das insistidas dietas.
“A Anabela hoje tem um perfume novo ou é impressão minha?” ou “As riscas da tua camisa são aquilo a que se chama de azul-marinho, não é Madalena? É a cor da moda!” e ainda “Caras colegas de gabinete, não vos quero incomodar mas sabem que prezo muito a vossa opinião e bom gosto... gostam dos meus sapatos? Mas ficam-me bem, a sério?"
Assim começou uma bela amizade. Graxa, risota e, tantas vezes, um ombro - Labrador - amigo.
What else?

quarta-feira, 18 de março de 2009

Must Love Pigs




Já nem se pode lanchar descansada.
Junto ao saco do pão costuma estar uma faca de serrilha, daquelas bastante grandes, mesmo próprias para cortar o pão. Estava a encher um copo com sumo tropical e uma senhora, na casa dos 60 mas com um pé nos 70, brinda os presentes com a seguinte intervenção: “esta faca é mesmo parecida à da matança do porco”. Não contente, acrescenta: “só que a da matança é mais bicuda...” e ainda “...que é p’ra espetar bem no porco”. Desistindo de ser tolerante face a observações sobre uma prática que não considero de forma alguma tolerável, manifesto-me, pedindo que me poupem de ouvir tais comentários. Porque considero uma barbaridade aquilo de que estão a falar.
A senhora responde-me: “Fique sabendo que é uma festa bem alegre”.
“Parece-me, acima de tudo, errado e, para além disso, primário festejar o sofrimento de um animal e a sua morte em tais condições. A esse tipo de celebrações assistia-se na Idade Média, no tempo em que não havia sumo tropical engarrafado nem facas de inox para cortar o pão” rematei.
Ainda não consigo impedir que se cometam este tipo de atrocidades mas de há muito tempo para cá que deixei de poupar das minhas críticas quem defenda actos cruéis contra os animais. Também não me poupam a mim.
Chamem-me radical ou extremista, mas eu cá orgulho-me de nunca ter atropelado um pombo!
Concordo absolutamente com Dalai Lama ao sublinhar que o civismo das pessoas vê-se pela forma como tratam os animais.
E como diz o senhor da Renascença: "vale a pena pensar nisto..."

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carnaval Sadino

Apesar das parecenças com a palavra “sádico”, o Carnaval Sadino de cruel ou perverso não tem nada.
Um jantar numa conhecida marisqueira da Avenida Luísa Todi foi o suficiente para reconhecer o espírito carnavalesco que se faz sentir em território da margem sul do Tejo a propósito das celebrações do Entrudo.
Entre divertidas máscaras, perucas, disfarces e fatiotas, estava presente naquele restaurante, cujo prato de lulas cortadinhas muito deixou a desejar dada a quantidade de cebola fatiada ultrapassar em larga escala a do molusco, um grupo digno de especial destaque: O gang dos super heróis!
Do célebre Super-Homem, com o seu cabelo de plástico penteadinho, à Batwoman com mini-capa, mini-saia e mini-pudor, ao Capitão América com o capacete de asas a confirmar que é o mais fashion dos Deuses da BD, ao hilariante Incredible (o Pai) no seu conjunto apertado sunga preta-cinto amarelo, de largura e altura semelhantes ao personagem animado mas que em vez da massa muscular de espuma que todos os outros heróis envergavam aproveitava a sua basta e robusta massa adiposa para encher o fato.
Entretida com a variedade de personagens históricas, infantis e contemporâneas no estabelecimento, quase me escapava um super herói sentado à minha esquerda com quem, não fosse uma separação de escassos centímetros improvisada pelo Aladino-de-sala e pela Sevilhana-de-mesa, partilhava na prática a mesma mesa.
Só depois de devorados o pão, manteiga e azeitonas do tão habitual couvert português - do qual dispensei uns rolinhos de patê duvidoso - reparo que esta figura quadrangular que acreditei pertencer ao grupo "mascarados de musculados" na pele de qualquer coisa como o Homem-esteróide, era efectivamente o Homem-Esteróide mas não mascarado.
Deste facto apercebi-me quando chegaram os seus companheiros de mesa: o Homem-Proteína, sua namorada a Rainha-do-fitness e a esposa do primeiro, a Proprietária-do-ginásio-que-também-dá-uma-perninha-na-recepção-aos-fins-de-semana-e-feriados.
O jantar terminou em grande com uma entrada triunfal ao som de buzinadelas.
Por entre mesas, faraós, peterpans, prisioneiros de alcatraz e outros foliões, uma donzela de cachos loiros pelo ombro, pelos escuros no peito e vestido branco virginal armado, ao volante de uma lambreta datada, acelerou rumo à cozinha de onde ninguém mais a viu sair.
É caso para gritar à moda das marchas populares: “Ai é, é, é, Setúbal é que é!”

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Os kiwis da nossa vida


O kiwi, à portuguesa "quivi" ou mesmo "quiuí", como muitos gostam de lhe chamar, é o fruto que maior número de vitaminas reúne: A, C, E, B3 e B6. Para além das vitaminas, estão presentes na sua composição uma série de minerais: potássio, cálcio, magnésio e ferro. O seu consumo é, pois, muito benéfico no que à saúde respeita.
Mas não se pense que por estes motivos esta fruta é apenas procurada pelo sexo feminino, em especial pelas mulheres que têm no bem-estar e na boa forma uma das suas principais preocupações.
Não senhor! Também há jovens rapazes - conheço eu um caso destes e que de feminino não tem nada - que a partir de um kiwi, meio queijo fresco e um iogurte natural elaboram uma agradável refeição, consolado-se com este tipo de alimentação até em alturas de maior exigência intelectual!
Voltando à descrição deste fruto cor de sporting e formato de ovo de galinha, não devemos menosprezar as suas características suculentas. Por olvidar esta potencialidade do kiwi é que uma outra jovem que conheço - chamemos-lhe Calu - ao transportar um deles ao desbarato na sua carteira, se deparou no final de uma curta deslocação com uma papa de verdete a envolver-lhe aleatoriamente todos os pertences.
Desde as chaves de casa a um livro emprestado que tinha que devolver em breve, das saquetas de aspegic e chá aos batons do cieiro e telemóveis.
Moral da história: O kiwi não é um fruto qualquer, não o trate como tal.
Sugestões de utilização: 1.) Acondicione-o devidamente antes de qualquer migração; 2.) Não deixe de recomendar o seu consumo ao próximo sem olhar a sexo, raça, credo ou religião.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

274 à Paiva Couceiro...chhrrrghrr...274 à Paiva Couceiro

Quantos de nós não ouvimos já, numa dessas viagens de táxi pela cidade da luz, a senhora da retalis, com a sua voz de cana rachada, a chamar um táxi para a Paiva Couceiro?
"Eu, pessoalmente" (como dizia a outra) já ouvi, e o meu amigo Kentucky (nickname) também. No que toca a carros de praça, posso dizer que este adepto do serviço de chauffeur tem um verdadeiro dicionário de expressões e linguagem.
Largos anos da minha vida a ouvir falar da Praça Paiva Couceiro, nomeadamente em frases como "Retalis... 274 à Paiva Couceiro" e permanecia, até há umas horas atrás, sem saber quem teria sido o senhor que baptizou um dos arruamentos da nossa cidade com maior ratio de circulação de táxis por quilometro.
Pois bem, Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, nascido a 30 de Dezembro de 1861, foi militar, administrador colonial e político. Esteve por trás das incursões monárquicas contra a Primeira República, tendo comandado a de 1911, participado na de 1912 e presidido a Monarquia do Norte, que durou de 19 de Janeiro a 13 de Fevereiro de 1919. Por este motivo e pela fidelidade monárquica o chamaram de "O Paladino".
Aqui fica uma brevíssima biografia de um nome que tantas vezes passa na boca dos nossos taxistas. E cujo bigode os poderia inspirar também.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A Rainha e a Mangueira

A manhã está animada por aqui. A "Flor de laranjeira" (chamemos-lhe assim para não denunciar identidades) ainda não parou de nos bombardear com intervenções de elevado teor humorístico. Digamos que está particularmente inspirada. Será do excitamento com a viagem-de-rambóia-disfarçada-de-trabalho que se anuncia para breve?
Chegou com o gás todo, dizendo que a "Primavera" (de novo um nome fictício) era a Rainha das Ratas. Ninguém percebeu bem - ou optou por não querer perceber - o que quereria a Flor de laranjeira dizer com isto, mas a risota geral foi, sem dúvida, um bom começo de dia.
De volta ao tema da viagem e como que a querer partilhar o seu entusiasmo brindou-nos com qualquer coisa como "Eu quero é putas e vinho verde!". Mas não ficámos por aqui...
Nisto, recorda-nos a agradável conversa que teve há uns dias com um colaborador da empresa, a quem ligou pedindo que viesse "apagar um incêndio". Do outro telefone obteve, previsivelmente, a seguinte resposta "Já estou a desenrolar a mangueira!". É caso para escrever: Deliciosa esta flor laranjeira!

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

The day after Benjamin Button


Tal como a maioria das pessoas que viram o filme "O estranho caso de Benjamin Button", posso dizer que foram três horas bem passadas em frente ao grande ecrã. Bom, para ser franca, não fosse a teenager ao meu lado a devorar pipocas como se não houvesse amanhã e - não contente com a trituração ambiente que me estava a proporcionar - a sacudir o pacote das mesmas como que a distribuir uniformemente o açúcar, e a satisfação do programa teria sido total. A companhia era boa e o filme também. Saldo positivo mas tão cedo não me apanham numa sala onde é permitido comer e sacudir pipocas!
Voltando ao filme, nada como assitir a uma comovente história de Amor. De Amor pleno, cheio, intenso e que, no estranho caso de Benjamin Button, vence - ou será que não? - a barreira da idade. Da velhice, da juventude e da velhice vs juventude. De Amor com letra grande, daquele que todos nós gostaríamos de viver ou, pelo menos, de sentir.







sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Início




"É hoje! O mais tardar amanhã de manhã!", disse-me alguém uma vez (estava eu de cerveja na mão) e ri-me às gargalhadas. Mas neste caso não se aplica porque é mesmo hoje. Let's get started!
Decidi baptizar o meu blog de "Jolas e Gargalhadas" porque a melhor opção, no que toca a decisões, é não complicar o que é simples. Por isso, aqui está. "Jolas" porque a cerveja é a bebida mais adequada em muitas situações. Bebe-se quando está calor, quando está frio, quando não está calor nem frio, bebe-se com os amigos ou quando se está sozinho e isso nos sabe bem. "Gargalhadas" porque está no top 3 daquilo que mais gosto de fazer. Rir. De preferência bem alto. Rir faz bem à alma e ao corpo e, quase sempre, a quem está à nossa volta.